Jeremias 32 — A Fidelidade de Deus em Meio à Adversidade
Em meio ao caos, à dor e à aparente ausência de futuro, Deus revela Sua fidelidade de forma surpreendente ao seu povo. O capítulo 32 do livro de Jeremias nos transporta para um cenário de guerra, juízo e esperança — e nos convida a enxergar além da lógica humana.
Jerusalém está cercada pelos babilônios. A queda da cidade é iminente. Judá, por sua persistente idolatria e desobediência, agora enfrenta o justo juízo divino. Jeremias, o profeta que por décadas clamou pelo arrependimento do povo, encontra-se preso — acusado de traição por anunciar a destruição que agora se concretiza. Ele não está à margem da crise. Ele é parte dela. Aliás, é interessante pensar que aquele que é o instrumento da justiça de Deus, não é poupado dos problemas, não é posto apenas como observador do juízo do Senhor, mas acaba também experimentando dos respingos desse juízo – ele está preso por ser um mensageiro de Deus.
Mas é nesse cenário de desespero que Deus faz algo inesperado: ordena a Jeremias que compre um campo em Anatote, sua cidade natal, já sob domínio inimigo (vv. 1-15). Hanamel, primo de Jeremias, aparece com a proposta de venda do campo em Anatote e Jeremias entende que era essa vontade de Deus. Ele obedece sem questionar - compra o campo, registra a escritura, sela o documento e o entrega a Baruque para guardar os documentos. Mais do que uma transação de compra e venda, é um ato radical de fé. Como alguém já disse, “fé não é um salto no escuro, mas uma resposta confiante à Palavra revelada de Deus, mesmo quando tudo ao redor parece contradizer essa promessa.”
Tal ordem de Deus parecia ser algo irracional. Como comprar um terreno que está sob o domínio inimigo? À primeira vista, de fato, não parece ser um bom investimento ou uma atitude de bom senso. No entanto, esse ato carrega um significado profundo. A compra do campo é um sinal profético. Um testemunho tangível da restauração futura. Judá será habitada novamente, a terra será cultivada, a aliança será restaurada. É esperança em meio ao desespero — esperança fundamentada na fidelidade inabalável de Deus.
Após obedecer, Jeremias ora. Ele louva o poder criador e redentor de Deus, relembra a fidelidade divina desde o Êxodo, e reconhece a justiça do juízo. Mas também expressa perplexidade (vv. 16-27). Afinal, como conciliar a ordem de comprar um campo com a destruição iminente? Essa oração é honesta. Jeremias confia em Deus o suficiente para apresentar suas dúvidas. E Deus responde com uma afirmação retumbante: “Há alguma coisa difícil demais para mim?” (v. 27). Essa pergunta retórica não busca resposta, mas reafirma a onipotência de Deus. Ele é soberano sobre a história, sobre o juízo e sobre a restauração. Nada é impossível para Ele. Muitas vezes, é nas situações mais difíceis que Deus manifesta Seus propósitos eternos.
Antes da restauração, vem o juízo. Jerusalém será entregue aos babilônios por causa da idolatria. O pecado exige punição. Mas mesmo diante do castigo, a graça de Deus irrompe com uma promessa gloriosa (vv. 28-44). Deus diz que trará o povo de volta, lhes dará um coração novo, e firmará com eles um pacto eterno. Esse Novo Pacto, profetizado aqui e cumprido em Cristo, supera a antiga aliança mosaica. Ele garante obediência e perseverança — não por mérito humano, mas pela obra do Espírito Santo. Então aqui, a compra do campo, antes vista como irracional, agora se revela como um sinal profético da restauração futura. Deus cumprirá Suas promessas.
O Que Isso Tem a Ver Conosco? Em primeiro lugar, aprendemos que devemos viver com fé e esperança em meio às crises, pois Deus continua no controle de tudo. Devemos obedecer a Ele, mesmo sem entender. Sim, nem sempre entenderemos todas as ações ou vontade de Deus. A verdadeira fé muitas vezes desafia a lógica humana.
Em segundo lugar, aqui também somos desafiados a descansar no Novo Pacto em Cristo. Esse novo pacto nos liberta da culpa e garante transformação. Confiemos na fidelidade do Senhor, no poder de Cristo, na Sua Obra Redentora, no Seu agir, não em nossas próprias forças.
Em terceiro lugar, Jeremias foi uma profecia viva da graça e da verdade de Deus. E por ser esse mensageiro de Deus, acabou preso. Isso nos ensina que nem sempre somos livros dos problemas; nem sempre somos poupados das crises. Ser um instrumento de Deus neste mundo poderá nos levar para o olho do furacão. Estamos dispostos a isso? Digno de destaque é o fato de Jeremias obedecer prontamente a ordem de comprar o campo. Ele até tinha questionamentos. Algumas coisas pareciam não fazer sentido na sua cabeça. Como vimos, ele até expressou essa dificuldade diante de Deus. Que haja em nós a mesma disposição que houve em Jeremias de obedecer prontamente a voz do Senhor.
Que o Senhor te abençoe.
Pr. Evandro Rocha